Não, não é o título de um novo livro de J.K. Rowling. HPMOR é uma obra de fanfiction (escrito por um fã), gratuita (todo fanfiction por natureza tem que ser) que infelizmente ainda não tem tradução completa em português (você pode conferir a tradução dos primeiros 11 capítulos aqui). Mas é algo que em muitos aspectos supera o original. O livro é uma obra em andamento que segundo o autor será concluída no início de 2015. Você pode ler em HTML direto no site ou baixar a versão em PDF que até agora tem 1633 páginas. Se isso em vez de intimidar te empolgou, eu acho que estou falando para a pessoa certa
Se você é fã de Harry Potter (os livros), leia HPMOR.
Se você não é fã, mas gosta de “papo cabeça”, leia HPMOR.
Eu descobri a existência desse livro por puro acaso, quando esbarrei em um comentário do hacker Eric Steven Raymond, cuja opinião eu respeito, sem poupar elogios. Eu tinha que conferir.
HPMOR conta a estória de um Harry Potter em uma realidade alternativa, onde Petúnia em vez de casar com o palerma do Dudley, casou-se com um professor de bioquímica da universidade de Oxford e Harry cresceu sendo amado, cercado de livros e intelectualmente super dotado (como Voldemort). Em HPMOR Harry não é o garoto apalermado que vence o mal basicamente por “dumb luck” (como diz McGonagall após a derrota do troll no primeiro filme). Ele é uma força a ser temida. HPMOR mostra como seria Harry como um garoto de 12 anos que acaba de descobrir que pode fazer magia, com uma mentalidade de adulto (possivelmente fruto do fragmento de alma do Voldemort residindo dentro dele), super dotado e acima de tudo, racional.
Aliás, esse é o objetivo do livro. A estória de Harry Potter serve como pano de fundo para que o autor, o gênio Eliezer Yudkowsky (sob o pseudônimo LessWrong), dê uma incrível aula sobre racionalidade. Conceitos que eu simplesmente teria pouca ou nenhuma paciência de tentar entender em um livro didático são explicados com exemplos práticos, fáceis de entender e muitas vezes hilários.
A estória de HPMOR mostra o primeiro ano de Harry em Hogwarts e o cenário geral é bem parecido com o da estória oficial, mas com algumas diferenças conceituais e outras de enredo. A mais importante das diferenças conceituais e algo que me incomoda na estória original é que no universo de HPMOR a magia cansa. Isto é: não basta você saber o feitiço para poder ficar uma hora balançando a varinha em um duelo como na obra oficial. Feitiços mais poderosos exigem mais energia física e você tem que decidir durante o combate o que pode fazer sem desmaiar de exaustão. Somente essa diferença já muda muita coisa, mas não é a única.
Em HPMOR, o professor Quirrel também se torna professor de Defesa Contra as Artes das Trevas em Hogwarts. Mas a semelhança praticamente acaba aí. O Quirrel de HPMOR é um mago de incrível poder que pode ou não ser Voldemort (existe muitra controvérsia na lista de discussão, por causa do seu comportamento ambivalente) e que se torna mentor e “amigo” (ele mesmo não aprecia a idéia) de Harry. Quando os dois se juntam para discutir a racionalidade do que acontece em Hogwarts, eu acho que posso ser flagrado de boca aberta babando na frete do tablet. E Quirrel não se contenta em ensinar uns feitiços chinfrins para seus alunos. Ele institui em Hogwarts eventos de Battle Magic onde os alunos de Hogwarts são divididos em exércitos sem separação por casas (você vê a Sonserina lutando ao lado da Grifinória e isso funciona) sob o comando de três “generais” escolhidos por ele: Potter, Malfoy e… (eu não vou contar quem é o terceiro. A surpresa é deliciosa
A descrição das batalhas é fantástica. E o suspense geralmente fica por conta do que o general Potter vai inventar (uma combinação de ciência e magia) para tentar vencê-las (ele nem sempre consegue, por causa das regras que muitas vezes são criadas por Quirrel justamente para dar uma chance aos outros generais) .
E não há falta de motivos para dar grandes risadas com o livro. Uma cena memorável é a em que Hermione dá um um beijo em Harry. Em outra Dumbledore e Snape se sentam para discutir um paradoxo temporal (sim, HPMOR também tem um dispositivo de viagem no tempo, sob o controle de Harry). É hilário!
E por falar em Snape, sua presença em HPMOR começa idêntica à da série original. Mas se você leu os livros ou assistiu aos filmes deve ter se perguntado como Dumbledore e McGonagall permitiam que um professor fizesse bullying em todos os alunos exceto os da sua casa tão descaradamente. Pois o Harry racional também se perguntou isso logo na primeira aula de Poções. O resultado é que o Snape de HPMOR é proibido de tratar mal seus alunos, graças a uma impressionante (embora não muito sábia) intervenção de Potter. E centenas de páginas adiante você descobre que isso não foi nada. Em HPMOR, Harry aprende a meter medo até nos dementadores. E tudo é explicado racionalmente.
SPOILER ALERT
SPOILER ALERT
SPOILER ALERT
SPOILER ALERT
SPOILER ALERT: O que vou contar adiante é importante para que você entenda realmente o livro, mas você não vai gostar de saber com antecedência.
Se você não percebeu até agora, um aviso: HPMOR não é estória para crianças. Os temas são adultos e o ápice dessa diferença surge como um soco no estômago do leitor no encontro de Hermione com o troll: Hermione morre, devorada da cintura para baixo. E Harry passa o resto do livro arquitetando seu caminho até a omnipotência (para desespero de todo o corpo docente de Hogwarts e todo mundo que tem juízo) para poder ressuscitá-la. O corpo de Hermione inclusive desaparece um dia depois. Todo mundo sabe que só pode estar com Harry (dos personagens aos leitores), mas ele nega e ninguém entende como ele pode ter escondido. Há quem ache que Hermione foi morta justamente para colocar Harry no caminho “do lado negro da força”, justamente porque Herminone era a única âncora que ele tinha. A única coisa que o segurava no caminho do bem.
Mas a estória, assim como esta sinopse, ainda não terminou
Finalmente (e infelizmente) a estória chegou ao fim ontem, com o último capítulo sendo publicado no dia e hora “do Pi”. Agradeço a Eliezer Yudkowsky pela oportunidade de ter lido algo tão extraordinário e de graça, mas eu teria pago com prazer.
Deixando de lado a aula sobre racionalidade, a precisão com que EY amarra a estória é impressionante. Logo na primeira página ele já sabia como a estória iria terminar e mesmo os eventos mais absurdos (geralmente obra de Dumbledore, que de insano não tinha nada)são explicados no final. Só por causa dos pequenos detalhes que passaram despercebidos o livro já merece ser relido. HPMOR é algo que eu vou lembrar e comentar por muitos anos ainda.