Eu comprei cinco unidades dessa luminária porque estavam em promoção por um preço tentador: apenas R$10 cada. Metade do preço normal na loja.
O produto é bem feito. Tanto a embalagem quanto a luminária tem uma aparência de construção profissional e segundo o site do fabricante este tem escritórios em pelo menos 16 países. Mas apesar disso o site é muito pobre em informações e se depender dele a luminária é falsa porque não existe uma luminária de emergência sequer listada.
Contrastando com a falta de informação no site, no produto até que vem bastante. Boa parte da embalagem é coberta com informações e o manual tirou a maioria das minhas dúvidas.
Como o site não tem nada, eu passei o manual no scanner. Note que eu só vou repetir o que está escrito no manual se for algo que eu queira comentar.
Especificações do fabricante:
- Fluxo luminoso: 70 a 120 lumens (selecionado por chave)
- Tensão: 100 a 240V
- Potência: 2W (não está claro o que significa);
- Autonomia: 2.5 a 5h (selecionado por chave)
- Temperatura de cor: 6500K (branco frio)
No fundo da luminária temos mais informações
O fabricante insiste no número de LEDs: 30, mas isso é largamente irrelevante pois o tipo de LED faz muita diferença e só é possível dizer que “mais LEDs = melhor” entre duas luminárias que usem o mesmo modelo. Entretanto eu entendo que é assim que funciona a cabeça do comprador médio e se um fabricante colocar menos LEDs de maior eficiência vai perder mercado. Pelo menos até esse tipo de produto ter certificação compulsória do Inmetro.
[hide]Ora, considerando que a bateria seja de 800mAh, isso significa que para durar as estimadas 2.5h a 120 lumens a bateria precisa fornecer continuamente 800/2.5=320mA. Multiplicando por 3.7V temos 1.2W. Isso parece suspeito porque dá uma eficiência de 120/1.2=100 lumens/W. Para comparação, a lâmpada OSRAM LED Superstar Classic A de 5.5W especifica um fluxo luminoso de 470 lumens (85,4lm/W).
Mais adiante eu voltarei a esse assunto. [/hide]
Por dentro
Uma luminária de emergência é algo muito simples. Essencialmente é constituída pelos seguintes blocos:
- Painel iluminador – que hoje é quase sempre de LED;
- Driver do painel – que faz a transformação necessária na tensão e corrente da bateria no necessário para acender o painel;
- Bateria – que em modelos grandes costuma ser de chumbo-ácido mas nesse caso é Li-ion;
- Circuito carregador da bateria – quanto mais eficiente o painel iluminador, mais simples é esse circuito;
- Circuito que inibe o funcionamento da luminária enquanto houver energia na tomada.
A luminária pode ser aberta com facilidade passando um cartão de crédito entre o módulo de LED e o corpo da luminária.
Note que ao contrário do que está escrito do lado de fora da luminária a bateria parece ser de 1000mA/h. [hide]Usando esse novo valor nos cálculos temos que para durar as estimadas 2.5h a 120 lumens a bateria precisa fornecer continuamente 1000/2.5=400mA. Multiplicando por 3.7V temos 1.48W. Isso dá uma eficiência um pouco mais fácil de acreditar de 120/1.48=81 lumens/W. [/hide]
O fato de ser uma 18650 me animou pois fica muito fácil substituir caso ela se estrague ou se eu quiser mais autonomia.
As duas abas de fixação são encaixadas e podem ser removidas com facilidade, permitindo a passagem de fios pelas extremidades sem danificar a luminária:
O módulo de LEDs é bem fino e plano podendo ser aproveitado numa instalação com bateria central ignorando o restante da luminária:
Os 30 LEDs são ligados em paralelo, mas a placa é organizada de forma que você poderia dividir facilmente em pelo menos dois grupos de 15 LEDs:
Análise do circuito
Eu não tive saco para refazer o esquema no EAGLE, por isso vocês vão ter que se contentar com uma cópia digitalizada do meu rascunho, com algumas edições:
A tensão no módulo de LEDs é de aproximadamente 2.8V no modo min e 2.9V no modo max.
A fonte é do tipo sem transformador o que significa que todo o circuito, incluindo a bateria, pode dar choque.
Note que falta o resistor/NTC limitador de corrente de surto em série com o capacitor de entrada e provavelmente é por isso que centelha ao plugar, mas pelo menos foi incluído o resistor bleeder (330K) para evitar choques ao tocar no plug.
Note também que o botão de teste coloca em curto o lado CC da alimentação. Como se trata de uma fonte sem transformador isso não é um problema porque a corrente máxima possível ainda está abaixo da capacidade de curto dos componentes, fios e trilhas mas eu gostaria de saber por que o projetista decidiu fazer assim em vez de simplesmente abrir o circuito logo antes do LED. Seria falta de confiança em um botão do tipo normalmente fechado?
Como o manual especifica que a luminária precisa de 24h para recarregar em 220V a corrente de carga deve ser de 1000mAh/24=42mA. O capacitor de 1uF proporciona uma reatância de 2653 ohms em 60Hz o que resulta em uma corrente máxima de 83mA em 220V. Ou seja: parece que o tempo de carga poderia ser até um pouco inferior ao especificado no manual (você não pode usar toda a corrente em uma fonte sem transformador).
As correntes indicadas no desenho para as posições min e max da chave foram medidas com multímetro diretamente na bateria. Com uma corrente máxima de 242mA e 30LEDs temos uma corrente máxima por LED de apenas 8mA quando tipicamente o máximo que esses LEDs suportam é 3x isso. Com uma tensão máxima de 2.9V no módulo isso dá 0,7W no mesmo.
Aparentemente é possível aumentar ou diminuir a corrente nos LEDs (impactando a autonomia) simplesmente mexendo nos valores dos resistores de 2k2 e 2k7. Aumentar a autonomia pela redução da corrente é seguro, mas ir pelo caminho inverso requer levar em conta a máxima capacidade do transistor SS8550 e dos LEDs sem dissipadores de calor.
O diodo que rotulei de “inibidor” mantém os LEDs apagados enquanto houver energia vindo da tomada.
Consumo de energia
Não está claro o que o fabricante quer dizer com “Potência: 2W”. Ele se refere à potência total dos LEDs? Ao consumo de energia quando está carregando a bateria? Na medição que fiz com um dos meus medidores de maior resolução o consumo da luminária supostamente completamente carregada ficou em 0.66W. O consumo mensal das cinco luminárias fica então em 2376W/h ou menos de R$2 a mais na conta de luz.
Mas a luminária produz ou não 120 lumens?
Eu só tenho como medir isso indiretamente, por comparação e usando um luxímetro. Como fonte de comparação eu usei uma lâmpada OSRAM de 470 lumens (supostamente certificado pelo Inmetro) e duas luminárias somando supostos 240 lumens instaladas no mesmo local.
Medindo em um determinado ponto fixo diretamente à frente:
- Lâmpada: 132 lux
- Luminárias: 77 lux (max) e 45 lux (min)
Como se pode ver confere. Meu arranjo de luminárias proporcionou metade da iluminação da lâmpada, o que sugere que cada luminária produz realmente 120 lumens ou algo bem próximo disso.
Minutos depois de publicar esse post eu descobri que o amigo José Carneiro tem algumas luminárias externamente idênticas, mas com o nome Segurimax. É possível que existam ainda outras marcas.
Quase 100% de certeza que a maioria procede do mesmo fabricante chinês (ou outro asiático) e eles simplesmente importam e embalam com sua marca…
Quase todas as lâmpadas de emergência de procedência chinesa são iguais.
A china tem uma cultura interessante de produção destes produtos de uso comum, são dezenas se não centenas de fabriquetas produzindo produtos semelhantes, o que muda é a qualidade.
Por 10 reais é realmente tentador demais, mesmo que fosse uma chinesa bem mal feita ainda estaria bastante barato. Se eu encontrasse uma destas por este preço também compraria algumas!
A luminária da Elgin que é bem parecida (não é igual, a tomada é destacável) custa apenas R$12 no ML.
Se você não é como eu (não pode ou quer aproveitar as peças) eu não recomendo comprar qualquer luminária em quantidade só porque custa R$10. Algumas são bem mal projetadas. Estou com uma na bancada da NEOTRON cuja análise deve sair neste fim de semana que na existência da ReneSola por R$10, eu só compraria se custasse R$5 e ainda assim para desmanchar.
Na primeira imagem com a tampa aberta, porque ela parece consideravelmente menor do que a base?
É uma ilusão de óptica provocada pelo tamanho do sensor da câmera e pela sua posição em relação à luminária no momento da foto. Se olhar com cuidado vai notar que a tampa tem o mesmo tamanho que o fundo da base. Mas o corpo da luminária parece se inclinar para fora (uma distorção) daí a ilusão. Se a tampa tivesse a mesma profundidade da base elas apareceriam com o mesmo tamanho.
Para evitar esse tipo de ilusão é preciso tirar a foto tão longe quanto possível do objeto, mas no tipo de trabalho de detalhe que faço isso é problemático e eu costumo preferir a distorção.
Eu exagerei. A partir de cerca de meio metro o tamanho reduzido do sensor da câmera já não provoca mais distorção perceptível para um objeto deste tamanho. Mas meio metro já é muito quando você quer preservar detalhes. O objeto aparece pequeno lá no meio da foto.
Estou testando a autonomia da luminária e surpreso com o resultado. Ligada na posição max, ela já está acesa há 13h30!
Não com o brilho máximo, claro. Tenha em mente que na posição max o fabricante promete apenas 2h30. Até 1h26 minha medição com o luxímetro ainda indicava uma redução pequena no brilho. Em algum momento depois disso (eu me ausentei) o brilho caiu bastante mas até agora, 13h depois de iniciado o teste, ainda é o bastante para você achar o caminho em um aposento pequeno.
No início do teste o luximetro pousado diretamente sobre a luminária acusava 1500lux. Agora são parcos 45lux. Se eu não estiver esquecendo algo, somente os 1500lux “desperdiçados” na primeira 1h30 já dariam mais 45h de autonomia nessa luminosidade.
Ao analisar o circuito eu achei que o fato do driver dos LEDs não aparentar ser de corrente constante iria ser um problema mas agora acho que é uma virtude. Se fosse de corrente constante provavelmente a luminária teria suportado as 2h30 no brilho máximo e então desligado, completamente exaurida. Mas o papel de uma luminária de emergência não é permitir que você leia um romance enquanto está faltando luz e sim proporcionar alguma segurança enquanto você se move pelo ambiente. Aqui em casa os piores pontos são os banheiros pois quando falta energia durante o banho à noite você não consegue enxergar um palmo à frente do nariz, mas acordar à noite em qualquer um dos quartos durante uma falta de energia também cria uma situação incômoda/perigosa até conseguir achar uma das muitas lanternas ou o celular.
As luminárias que já instalei na casa sequer estão ajustadas para a posição max, porque eu preferia as anunciadas 5h de autonomia da posição min. Eu fiz o teste na posição max porque esperava assim gastar menos tempo monitorando.
Estou muito satisfeito até agora.
A luminária está acesa há 18h e a luminosidade está no limite de utilidade, meu teste indicando algo como 20lux. Notar que como meu teste é feito com o luxímetro encostado esses valores devem ser o de um único LED.
Após 19h ainda com a luminária acesa, decidi medir a tensão na bateria: 2.4V. Raios… a tensão mínima segura é de 2.75V. Eu esperava que o circuito desligasse automaticamente abaixo de 2.8V. Esse meu experimento pode ter danificado a bateria. Frak!
Após 17h de carga em 220V a tensão está em 4.12V. Ou seja: já está pronta para operar. Mas vou esperar para ver se alcança 4.2V.
Após 19h tinha 4.14V. Após 26h a bateria já tinha 4.2V.
Esta luminária custa R$13 no Atacado dos Presentes de Recife
A luminária está por R$9,90 na Tupan de Afogados.
Mesmo preço da Ferreira Costa.
tive outra surpresa positiva com essa luminária hoje. Desde fevereiro de 2018 eu tinha seis unidades guardadas carregadas em uma gaveta. Fui testar hoje e cinco delas acenderam!
As baterias seguraram a carga por dois anos e seis meses!
Eu não testei o quanto de carga ainda há nelas mas só o fato de haver alguma carga já é um ponto positivo em um produto de tão baixo custo.
Quanto à luminária que não acendeu, sempre é possível que eu tenha guardado ligada. Percebi que é para evitar que o botão se mova para a posição ligado ao empurrar a luminária na caixa que este é preso na posição central com uma fita adesiva.
Rodrigo Feliciano, do blog Pakéquis, analisou uma luminária em 2017 que é idêntica por dentro.
Eu tenho várias aqui queimadas, todas o Resistor R1 está torrado, mas há mais componentes danificados, pois já troquei uma vez e ele queima imediatamente, vou tirar um tempo para analisar melhor o que pode ser.
Qual você chama de R1?
O Resistor de 330k, em paralelo com o capacitor logo na entrada do circuito.
na maioria dos circuitos que olhei ele é identificado como R1.
bomdia depos que acaba a vida util da bateria nao pode trocar por outra bateria ou e descartavel a luminaria
Trocar a bateria você sempre pode. O problema é encontrar a bateria para vender por um preço que valha a pena.
Tem um monte dessas baterias dentro
Da bateria de Notebook
Só abrir e tirar
São de qualidade melhor das que vem na luminária