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O “X” DA QUESTÃO

Texto escrito há muuuito tempo e revisado em 10/10/2005

Muita gente se confunde com o significado do “x” que quantifica a velocidade dos drives de CD ROM. Para entender seu significado vale a pena conhecer um pouco da história do CD ROM.

O primeiro drive de CD ROM colocado à venda para o grande público era capaz de ler CDs a uma velocidade de 150KB por segundo (150KB/s ou 0.15MB/s). Para os padrões de hoje, uma tartaruga seria mais rápida, mas como na época a capacidade de um CD era considerada monstruosa (640MB era muito mais do que o maior HDD à venda poderia conter – imagine só) e os ditos HDDs da época não eram muito mais rápidos do que isso, o CD ROM tornou-se um sucesso.

A velocidade de 150KB/s não foi determinada ao acaso. Essa é a mínima velocidade necessária para se ler um CD de música (CD áudio), porque cada segundo de áudio gravado com qualidade CD ocupa 150KB (como comparação: um disquete de 1.44MB só comporta um pouco menos de 10 segundos de gravação com qualidade de CD).

Nota que não tem nada a ver com o assunto: Cada segundo de áudio ocupa 150Kbps apenas em formato não-comprimido. Quando eu escrevi este texto, a tecnologia MP3 ainda não existia. Com ela, em um disquete de 1.44MB cabem quase dois minutos de música com qualidade de CD.

Quando o primeiro drive de CD ROM capaz de ler a 300KB/s foi lançado ele foi chamado de “2X” para que o público fosse capaz de perceber mais facilmente que ele tinha o dobro da velocidade de seu predecessor. A lógica é simples: mesmo os possuidores do primeiro drive de CD ROM não tinham o conhecimento (ou a lembrança) de que seus drives liam a 150KB/s. Então anunciar um drive como sendo de 300KB/s não teria qualquer apelo para esses consumidores. Entretanto, dizer que o novo drive era capaz de ler a 2 vezes a velocidade de seu drive atual era outra coisa. “2X” então queria dizer “duas vezes” ou “o dobro”.

Um ponto importante a frisar aqui é que esse drive não lia (e não lê) a “duas velocidades”. Sua velocidade é única e igual a 300KB/s.

[10/10/2005]: Alguns fabricantes de cartões de memória adotaram como medida de velocidade o mesmo “X” dos drives de CD. Assim um cartão de memória com a inscrição “60X” é supostamente capaz de transferir dados a 60×150 = 9000KB/s = 9MB/s. Isso perverte a idéia original do “X”, mas foi feito para dar ao comprador não-técnico uma idéia rápida de como comparar o desempenho do cartão com algo conhecido.

Já o caso dos drives de DVD é diferente. O “X” deles segue a mesma “idéia” original e um drive de DVD de 12X tem “12 vezes a velocidade do primeiro drive de DVD” e não “12x150KB/s”

A velocidade original dos drives de DVD é 1385KB/s, por isso a 8X (11000KB/s) um drive de DVD é supostamente bem mais rápido que um CD a 50X (7500KB/s). Na prática, o ganho de velocidade embora não seja exatamente igual ao nominal, ainda é bastante expressivo, por isso é geralmente muito mais rápido transferir dados de DVDs do que de CDs.

Eu estou regravando tudo o que tenho em CDs para DVDs. Além da mídia ser mais barata por MB, ocupa menos espaço (cabem quase 7CDs em um DVD) e é mais rápida.

No Brasil, nos acostumamos a chamar todos os drives que atingiam essa especificação de drives de “dupla velocidade” ou drives “dois x” para simplificar.

Com o aparecimento de drives mais rápidos e com a entrada no mercado de vendedores menos especializados tornou-se comum se referir a drives de “6 velocidades”, “8 velocidades”, e assim por diante.

Não é tecnicamente correto chamá-los assim porque qualquer um desses drives (com exceção dos drives CAV de que falarei adiante) tem uma única velocidade: a máxima possível.

Diferentes tecnologias

Lembro-me de, quando criança, brincar colocando um bonequinho para girar sobre um LP enquanto este tocava. Quanto mais longe do centro do disco eu o colocava, mais rápido ele girava e mais difícil era mantê-lo de pé.

Esse é um efeito curioso dos objetos circulares que giram: enquanto eles giram a uma velocidade constante (uma Velocidade Angular Constante), a velocidade medida na superfície do objeto (a Velocidade Linear) aumenta gradativamente à medida que medimos pontos mais afastados do eixo.

A tecnologia usada nos drives de CD ROM até 12X é chamada de CLV (Constant Linear Velocity ou Velocidade Linear Constante). Ela é chamada assim porque a área varrida pelo Laser no CD é sempre a mesma num mesmo intervalo de tempo. Para tornar isso possível os fabricantes determinaram um esquema em que a velocidade angular do drive (a velocidade de seu motor principal) é reduzida à medida que o laser se afasta em direção à borda. Temos então uma Velocidade Angular que varia para permitir uma Velocidade Linear Constante.

Em drives de tecnologia CLV, então, não importa em que parte do CD a informação esteja gravada.

Os drives de CD ROM mais recentes implementam uma outra tecnologia, chamada CAV em que a velocidade do motor que gira o disco é mantida constante como em um toca-discos. À medida que o laser se afasta do centro do CD então, os dados são lidos mais rapidamente. Assim um drive pode começar a uma velocidade de 8X na sua trilha mais central e terminar em 24X na sua trilha mais externa.

Fabricantes mais honestos (ou os que se veem obrigados a isso pelo mercado) nomeiam seus drives como 24X MAX, refletindo que é sua velocidade máxima. Não tenho conhecimento de nenhum drive de 24X reais à venda no mercado ( um drive CLV) então todos os drives no mercado, quer contenham a descrição MAX ou não, são CAV.

A nova tecnologia leva a problemas óbvios. Você só se beneficia da velocidade se os dados que você usa estiverem concentrados no final do CD. Entretanto, como a gravação e a leitura em CDs começa por sua trilha central você passa a maior parte do tempo desfrutando de sua velocidade mínima.

Nota para tecno-viciados:

Tenha em mente que a densidade de gravação nos CDs, ao contrário dos HDDs, é constante em toda a superfície. Podemos dizer que HDDs utilizam tecnologia CAV, porque a velocidade de seu motor é constante, mas a localização física dos dados em um HDD não faz diferença porque os circuitos de gravação mudam a densidade de gravação à medida que a cabeça se aproxima do centro do HDD. Como exemplo grosseiro, podemos dizer que se em um centímetro quadrado na extremidade do HDD a cabeça grava 1MB, no centro ela grava 5MB. Assim, a velocidade linear mais baixa no centro é compensada por mais dados lidos por centímetro.

Pela mesma razão, toda a metodologia dos testes de velocidade tem que ser adaptada aos novos drives. Um programa que meça a velocidade de um drive de CD ROM deve colher amostras em diferentes locais do disco e drives CAV devem ser preferencialmente comparados a outros drives CAV. Um drive de CD ROM 24X MAX que tenha uma velocidade mínima de 8X irá ser comparado desfavoravelmente a um drive de 12X CLV.

Os fabricantes foram obrigados a trocar a tecnologia CLV pela tecnologia CAV por vários fatores, sendo que o mais importante deles é a própria velocidade rotacional do disco. Um drive CLV de 12X gira o disco a velocidades entre 6360 RPM (para ler a trilha central) e 2400 RPM (para ler a trilha mais externa). 6360 rotações por minuto já é uma velocidade muito alta e qualquer coisa além disso pode fazer com que quaisquer imperfeições no disco ou em seu rótulo induzam o drive a vibrar. A vibração, além de provocar um ruído incômodo, dificulta o processo de focalização do laser.

Um drive CAV pode até trabalhar numa velocidade de rotação mais baixa (o suficiente para garantir uma leitura a 8X na trilha central) e mesmo assim ser mais “rápido” que um drive CLV, porque ele vai manter essa velocidade constante, ao contrário do CLV que iria reduzi-la até meros 2400 RPM. Com velocidade reduzida, o motor recebe menor esforço e pode ser mais “barato” ou durar mais tempo.

Entretanto, não é apenas o problema de vibração que impede os fabricantes de aumentarem a velocidade dos motores para alcançar velocidades mais altas. O chip que recebe e processa os dados (chamado de DSP) recebidos pelo laser tem suas limitações também e os fabricantes de drives de CDROM precisam esperar que os desenvolvedores de DSPs lancem um chip mais rápido, mesmo que tenham descoberto um modo de fazer o motor girar mais rápido com pouca vibração.

É por causa da limitação nos DSPs que existem os drives p-CAV (Partial CAV ou CAV Parcial). Um drive de 20X p-CAV, por exemplo, tem um DSP que só aguenta receber dados até 20X. Assim o drive funciona como CAV até o ponto em que os dados começam a chegar a 20X e reduz sua velocidade para cada trilha seguinte (como se fosse um CLV) de modo a manter-se dentro dos limites de processamento do DSP.

Não se assuste se o vendedor de sua loja favorita não estiver a par dessas diferenças tecnológicas. A maioria não está. E infelizmente isso está deixando de fazer alguma diferença. Hoje a maioria dos drives de CD ROM já não é mais CLV.

Bem, se não é possível escolher porque eu falei tudo isso? Simples: para que as pessoas que já tem um drive de CD ROM não fiquem na expectativa de grandes melhorias na performance ao fazer um upgrade de drive. Se você tem um drive de 12X, é recomendável que você gaste o dinheiro que você usaria em um upgrade de CD em mais memória para seu computador ou em qualquer outra coisa com melhor relação custo/benefício. Trocando de drive, exceto em situações específicas, você corre o risco de ficar decepcionado com os resultados.

Nota: Este texto foi escrito quando o maior drive disponível no mercado era de 24X. Hoje, enquanto escrevo esta nota, os drives já passaram dos 50X. A diferença de um desses drives para os de 12X é significativa e o preço parece razoável, mas sempre procure drives de boa qualidade, como os drives da Creative. Drives de qualidade duvidosa, além de serem tecnicamente mais lentos que os drives Creative de mesma velocidade nominal, tem uma maior incidência de dificuldade para ler CDs e leitura errada de dados.

Confie em mim e escolha com cuidado o seu drive de CDROM. O problema mais “perverso” provocado por drives de má qualidade é que suas instalações de programas podem ficar corrompidas, levando você a acreditar que tem um problema na máquina, sem nunca desconfiar do leitor de CDs.

[10/10/2005]: Hoje, os drives da Creative desapareceram do mercado, depois de um declínio na qualidade (pifavam cedo, sem motivo aparente). O drive dominante no Brasil agora é o LG. Não tenho do que reclamar de sua longevidade e qualidade de leitura. Acho os LG altamente confiáveis, inclusive como gravadores de DVD.

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