Toda vez que eu vejo uma notícia de que o PROCON multou esta ou aquela agência da CAIXA por causa das filas para pegar o benefício emergencial eu me espanto com o absurdo da situação. Se alguém tem que ser multado por isso não deveria ser o governo por afunilar dessa forma a distribuição do dinheiro? Eu não sei como resolver o problema hoje, mas para o futuro eu imagino que seria prudente se a carteira de identidade do indivíduo fosse um smartcard que pudesse ser recarregado rapidamente em segundos (e quase sem contato) com o auxílio emergencial aproveitando a rede já existente, por exemplo, de aparelhos que podem carregar os cartões de vale transporte. Eu carrego o meu numa lojinha de variedades de menos de 20 metros quadrados a 100m da minha casa em um equipamento semelhante ao usado para fazer uma compra com cartão de crédito, o que para mim indica que essa capacidade existe em toda parte (veja a Rede Ponto Certo e a Rede Siga, por exemplo). Isso tem um custo de cerca de R$2, mas é irrisório diante das alternativas. Eu não sei qual seria a dificuldade de fazer isso usando um celular com capacidade de pagamento (Apple Pay, Google Pay, etc), mas seria outra opção que permitiria carregar até via internet.
Eu acho muito bom ver muitas empresas se dedicando a consertar de graça os equipamentos hospitalares que estão quebrados, mas não posso deixar de pensar que esses aparelhos podem não estar sendo consertados adequadamente. Não é qulaquer técnico em eletrônica que pode consertar um equipamento cujo erro pode levar à morte. É preciso ajuda do fabricante, com acesso a informações detalhadas, às peças específicas e às vezes até treinamento específico. É melhor que nada, mas eu não me surpreenderia se após essa crise todo esse equipamento consertado “irregularmente” fosse descartado. Eu não sei aqui no Brasil, mas no EUA é especificamente ilegal consertar esses equipamentos sem qualificação específica, embora o FDA compreensivelmente esteja ignorando qualquer esforço desse tipo durante a pandemia.
Ainda sobre o assunto dos ventiladores, por enquanto raramente se vê notícia sobre empresas “chiando” porque essa ou aquela patente está sendo violada pelos esforços de outras empresas para construir ou consertar ventiladores porque isso é péssimo do ponto de vista das relações públicas. Mas não impede que aconteça. No mês passado um indivíduo que estava construindo por um dólar em uma impressora 3D uma válvula que o fabricante cobra 11 mil dólares (!?) para substituir foi ameaçado de processo pelo fabricante quando se atreveu a pedir a eles informações mais detalhadas (uma versão revisada da noticia informa que a empresa não ameaçou processar, mas informou que era ilegal). Quando a poeira baixar, se as leis não mudarem, eu imagino que um número substancial desses ventiladores que foram construídos às pressas terão que ser sucateados por quase que inevitavelmente infrigirem uma dúzia de patentes.
Eu não consigo deixar de pensar na série Counterpart e como a Terra Prime teve que trocar avanços tecnológicos por avanços na medicina por causa de uma pandemia que devastou o planeta. E culpou a Terra Alpha por isso.
Por sinal: você chegou a assistir a série até o final? O que achou?
Não. Eu me irritei com o acúmulo de problemas na trama e deixei para lá.
Também não consigo entender o porque todos correm para o banco para sacar. Não creio ser possível que essa gente não tem conta em algum banco, pois pelo que sei no cadastro você pode informar a conta de qualquer banco e o dinheiro caindo na conta você pode usar o cartão de débito.
Me lembro também que parece que poderia ser recebido por alguma fintech (tipo a NuBank). Mas parece que o povo desespera e prefere a via mais difícil.
Para nós que sempre tivemos conta em banco (eu tenho a mesma há 30 anos) isso pode parecer estranho, mas conta em banco é um luxo desnecessário para a maioria da população. Um em cada três brasileiros não tem conta em banco. Além do custo (O Bradesco me cobra mais de R$60 mensais pela minha conta Prime à qual eu nem aderi e eu não fui reclamar ainda por inércia, que os bancos adoram) tem o fato de que a amaioria das pessoas não sabe lidar com dinheiro de plástico ou com segurança de dados e, francamente, eu sou considerado mais inteligente que a média e ainda tenho problemas para entender o extrato do meu banco.
Imagine as pessoas para quem o bolsa família é uma necessidade tendo conta em um banco. E basta essas pessoas indo todas de uma vez para provocar uma aglomeração exagerada. O número de agências da Caixa já é pequeno demais para garantir um atendimento digno num dia qualquer de um ano normal.
A coisa só piora enquanto você se aprofunda no assunto. Pelo que li, tem um tal de Caixa Tem, que me parece ser um tipo de conta virtual e quem não tem conta em banco pode usar esse app. Qual seria a dificuldade do banco/governo emitir um cartão de plástico e enviar pelo correio, já que o cadastro pede o endereço.
Ou pior ainda, o próprio app Caixa Tem criar um cartão virtual que o cidadão pudesse sacar o dinheiro em qualquer conveniado do BB ou Caixa. Ou seja solução há, a questão é que não implementaram.
Acho que no momento a principal seria tempo. Supondo que vão ser 70 milhões de brasileiros beneficiados e um em cada três não tem conta em banco (sendo generoso porque essa amostra exclui as classes que certamente tem conta em banco) são 23 milhões de sem-conta. Nós temos capacidade produtiva para emitir 23 milhões de smartcads a toque de caixa? Ainda que tenhamos a matéria prima em estoque e conseguindo emitir um milhão de cartões por dia (mais de 11 por segundo, 24/7), ia levar 23 dias para atender a todos. E ainda tem o tempo do correio, que é uma grande incerteza hoje.
Aí temos o custo. Supondo que cada cartão postado com rastreamento (tem que ter) custe R$3 (sendo bem otimista) vai custar 70 milhões de reais. Essa parte eu acho “bobagem” porque é dinheiro injetado na economia e a maior parte (será?) para o correio. Mas não seria melhor investir esses 70 milhões numa solução tecnológica permanente?
Não sei. O que eu sei é que se o governo não estiver pensando numa solução para esse problema já, são irresponsáveis e incompetentes.
Outra coisa: não basta ser capaz de produzir x cartões por dia. É preciso envelopar, endereçar e preferencialmente agrupar e encaixotar todos eles por CEP ou cidade nesse mesmo tempo. Do contrário o tempo para fazer isso pode ser muito superior ao tempo de simples fabricação. Temos capacidade produtiva para isso no Brasil? Aqui quando a gente precisa de um novo cartão do banco ou de crédito costuma levar o que parece ser uma eternidade para processar o pedido e entregar.
Cartão virtual? Um cartão de papel pra usar 3 ou 4 vezes? Não creio que seja impossivel, isso seria apenas pra quem não tem conta, não tem cartão, não tem mesmo como receber o dinheiro de forma eletronica. Não digo pra todos.
Pelo que pude entender pela publicação abaixo, há a opção de conta digital:
https://blogdoiphone.com/2020/05/caixa-tem-iphone/
Agora, como não testei o aplicativo, não sei ao certo se isso resolve o problema de não ter que ir a uma agência da Caixa.
O que eu entendi até agora é o seguinte:
1)A conta digital é um tipo de conta diferente onde o usuário não tem cartão e é automaticamente aberta pelo banco.
2)O usuário ainda precisa ir a um terminal de atendimento da Caixa se quiser sacar o dinheiro. O aplicativo gera uma senha que permite o uso do terminal sem um cartão.
3)O usuário pode transferir o dinheiro para uma conta em outro banco ou efetuar pagamentos com a conta digital.
Se o usuário pudesse usar o aplicativo Caixa Tem para comprar alimentos na quitanda ou no supermercado, boa parte do problema estaria resolvido. Mas quem precisa do dinheiro para comer e/ou pagar o aluguel precisa ir ao banco. Note que não é qualquer lugar que tem abastecimento suficiente de dinheiro para pagar de R$600 a R$1200 para centenas de pessoas por dia. Isso só piora o afunilamento. O ideal é que as pessoas pudessem usar ao máximo esse dinheiro eletronicamente.
Aliás, uma coisa que eu ainda não vi nenhuma reportagem mencionar é como fica a segurança na saída desses bancos. Sabemos que uma quantidade significativa das pessoas que saem dali tem de R$600 a R$1200 no bolso e a bandidagem também sabe disso.
Nesse caso do app da conta digital, creio que como é o sistema bancário do Brasil, não seria difícil ou impossível de se pulverizar os beneficiários pra outros bancos, ai quando o credito fosse liberado, o próprio app lhe indica em qual banco/agencia você deveria se dirigir. Isso iria desafogar e muito a coisa, não geraria essas filas enooormes nas agencias da caixa.
Outra coisa que poderia facilitar e se funcionasse direito, o próprio app sugerir uma janela/dia para o beneficiário x ir retirar seu beneficio.
Temos 2 grandes problemas que se criaram com abordagem que a Caixa fez do problema (mas que não vejo nenhuma solução simples)
1. O aplicativo não funciona, como o resto do sistema da caixa, o aplicativo vive fora do ar, as pessoas não conseguem gerar as senhas/códigos de validação para usar o dinheiro. Isso leva as pessoas até o banco para tentar resolver.
2. Muitas pessoas não tem smartphone, dependeram da ajuda de alguém para se cadastrar, então mesmo que o aplicativo funcionasse 100%, ainda teria muita gente indo aos bancos.
Como sugerido aqui, vejo que deveriam ter feito parceria com os outros bancos para essas pessoas sacarem dinheiro lá, ou quem pudesse, ter aberto uma conta bancaria temporária para receber o beneficio nesses bancos, ou uma solução de pagamento por celular, mas pra isso teria de se pensar em uma solução nivelando por baixo, algo baseado em SMS, provavelmente com um clássico cartãozinho de papel com senhas únicas de transação, mas não acho que conseguiríamos em toque de caixa (em 2 semanas) implementar uma solução assim.