Notas sobre minha primeira viagem a Londres

Vou escrever aqui antes que eu esqueça de compartilhar isso.

Ir daqui de Dublin para Londres, por incrível que pareça, ficava mais barato que ir para um destino turístico dentro da Irlanda. A viagem de avião para Stansted, com transferência de trem para o centro de Londres, saiu pelo equivalente a R$400 por pessoa (ida e volta). Tão barato que se eu não tivesse dinheiro pediria emprestado para não perder a oportunidade. Se para um liso brasileiro isso é barato imagine para o cidadão de um pais cujo salário mínimo equivale a 10 vezes o mínimo brasileiro. Imagine ter um salário de 12mil reais e poder visitar Londres por R$400.

E o que mais me surpreendeu foi a questão de imigração. Desde o início de 2024 brasileiros indo para Londres precisam requerer com antecedência uma autorização chamada ETA (que não é visto, que ainda não é necessário) e isso requer que o passaporte seja biométrico e os nossos não são. Eu achei que isso ia impedir que eu e mamãe fossemos (minha irmã tem cidadania irlandesa) mas minha irmã entrou em contato com amigas brasileiras que moram aqui e viajam de vez em quando para Londres e elas disseram que ninguém estava pedindo isso.

Eu continuei desconfiado, mas para a minha surpresa era isso mesmo. O brasileiro só precisa mostrar o passaporte ao atendente da Ryanair em um balcão especificamente designado como “visa check”. O atendente conferiu nossos passaportes em Dublin e autorizou nossa viagem. Chegando a Londres não passamos pela imigração!

Na volta, nem sequer era necessário ir ao balcão da ryanair. O atendente lá explicou que podíamos ir direto para a segurança. Em toda a viagem só precisamos passar pela imigração na volta para Dublin. E nessa passagem as preocupações se inverteram. Enquanto de Dublin para Londres eu achei que ia dar errado mas minha irmã não estava nem aí, de Londres para Dublin minha irmã estava receosa que a imigração criasse problemas comigo e mamãe. Eu achei que ter uma autorização de estada de 90 dias já carimbada no passaporte fosse o bastante para entrar e sair da ilha sem ser incomodado mas pela preocupação da minha irmã, agentes de imigração irlandeses são uma força a ser temida e que o melhor é ter sempre consigo todas as provas de que sua estadia é temporária. Mas no final não houve qualquer dificuldade.

Ou seja: do Brasil para Londres é mais burocrático hoje do que era no ano passado. Mas se você tiver um visto de Dublin, entra e sai de Londres sem dificuldade se viajar pela ryanair. Lembrando que o Reino Unido não faz mais parte da União Européia desde o brexit.

Em Londres, uma das falhas de meu planejamento que não podia antecipar é que o rio Thames (Tâmisa) é navegável por embarcações de grande porte e todas as pontes são bem elevadas em relação às margens, por isso para fazer a travessia a pé você precisa subir e descer escadas de uma altura considerável. Não era problema para mim e para minha irmã, mas minha mãe tem 78 anos e tem problemas nos joelhos piores que os meus.

Mamãe fez assim mesmo os trajetos traçados pelo Google Maps, que nos obrigavam a cruzar três vezes o rio, mas não foi fácil para ela.

Opções de acessibilidade como rampas são piores para ela. Melhores para quem está de cadeira de rodas, mas para certos problemas de mobilidade as escadas são um problema menor que rampas.

Eu levei um celular extra para me entreter durante o trajeto de avião e trem sem gastar a bateria do celular principal, que seria muito importante durante a visita. No final acabei esquecendo que eu poderia e deveria ter usado o celular reserva para navegação pelo Google Maps e o principal só para as fotos. Ficar alternando entre o Google Maps e a câmera foi desnecessariamente incômodo.

O avião da ryanair que faz essas viagens curtas não tem porta USB nas poltronas e acho que se tivesse a companhia cobraria pelo seu uso, mas o trem StanstedExpress que nos leva do Aeroporto para o centro tem conectores USB e tomadas de energia no padrão britânico sob cada poltrona, logo minha preocupação de levar comigo carregadores e cabos à vontade rendeu frutos. A viagem leva 50 minutos, que é o bastante para deixar o celular de alguém que não é viciado em seu uso carregado. Mas cuidado que você tem uma tomada de energia e uma porta USB para cada duas poltronas então pode precisar compartilhar.

Londres é uma cidade turística apinhada de gente. Não tivemos qualquer problema com isso, mas você precisa estar atento porque se for vítima de um pickpocket (ladrão de carteiras) ele vai sumir na multidão muito depressa. Sempre viaje pensando: “se isso for roubado, quais vão ser as consequências?” e planeje de acordo. Minha irmã era quem podia pagar em Libras, mas eu estava com uma quantidade suficiente de Euros para poder ir a uma máquina de câmbio e obter o bastante em Libras para deixar o país. Se o celular que podia fazer pagamentos deixasse de operar, tinhamos um cartão. Eu estava com as passagens impressas de trem, mas todos tínhamos cópia do PDF nos nossos celulares. O trajeto que íamos fazer estava copiado para minha conta Whatsapp em dois celulares.  Nossos passaportes só saiam da doleira enfiada na minha cueca (é o lugar mais seguro, infelizmente) o tempo indispensável (se há uma coisa que você nem deve sonhar em negligenciar no exterior é o seu passaporte). Nada disso foi necessário, mas quando eu pensava no pesadelo que certos problemas que podiam acontecer que em casa seriam meros inconvenientes mas em um país estranho para todos seriam um pesadelo…

Planejar uma viagem internacional é extremamente estressante. As pessoas que simplesmente vão junto não fazem idéia e se tudo ocorrer bem ninguém valoriza seu esforço, mas se algo der errado… Se pelo menos você tiver certeza de contar com companhias compreensivas em vez de gente que só critica você ainda vai estar no lucro.

A cidade é impressionante. Tem a mesma “majestade” de Paris. Dublin é um cidade do interior em comparação.

16 comentários
  • Jefferson - 6.532 Comentários

    O tempo em Londres estava quente e ensolarado, mas eu não me lembro de ter sentido tanto frio na vida quanto o que senti quando saí do avião às 22h no aeroporto de Dublin. Não havia finger e tivemos que caminhar da escada até o terminal. Não andei 30 metros e tremia tanto que mal consegui controlar os braços para tirar o casaco de dentro da mochila. Eu já levei o casaco para Londres na bolsa porque “não custava nada” mas acabei aprendendo a nunca subestimar o quão incapacitante pode ser o frio. E olha que estamos no verão europeu.

  • Jefferson - 6.532 Comentários

    Este foi plano que elaborei e copiei para meu whatsapp nos dois celulares para poder consultar de vez em quando:
    ===================================================================
    Chegada em Londres: 10h20
    Chegada na estação de trem: 11h20 (1h de trânsito no aeroporto)
    Chegada na estação Liverpool: 12h30 (15min de espera máxima + 50min de viagem)

    Vôo sai às 20h50
    Temos que estar no aeroporto às 19h
    Então precisamos estar de volta na estação Liverpool às 18h

    Temos 5h30 de passeio
    São cerca de 3h de deslocamento então temos 2h30 para paradas
    Como são seis pontos, temos pelo menos 20 min em cada ponto

    O tempo do palácio de Buckingham para a estação Liverpool é 1h15min a 5km/h
    Então se chegarmos ao palácio antes das 16h estaremos dentro do cronograma
    O ideal é estarmos lá às 15h
    ====================================================================

    Como não tivemos que passar pela imigração em Stansted e pegamos na estação um trem que já estava partindo, ganhamos uma hora. Estávamos na porta da estação Liverpool às 11h30.

    O plano, do meu ponto de vista, foi quase um total sucesso.

    Mas na volta tivemos uma complicação. O Google Maps calcula tempos de caminhada baseado em uma velocidade de 5km/h. Eu posso manter facilmente um passo acima de 6km/h, mas na volta minha mãe estava cansada e caminhava a menos de 5km/h. Chegamos na estação 10 minutos depois do previsto, perdemos tempo indo ao banheiro da estação (o trem tem três) e perdemos um trem. Nossa chegada ao aeroporto seria às 19h30.

    Isso não deveria ser problema, mas só no trem me dei conta de uma coisa: 19h foi o sugerido pela ryanair, mas somos brasileiros e precisávamos ir fazer o visa check (assim achávamos) e nem sabíamos onde era o balcão da ryanair, nem levei em consideração filas maiores na segurança. Mas não havia nada o que pudesse ser feito naquele ponto e eu tenho uma política de não me preocupar com aquilo que não tenho poder para mudar.

    No fim deu tudo certo. O balcão da ryanair era logo na entrada do aeroporto, não havia fila, não precisamos de visa check e não havia fila na segurança.

    E o vôo atrasou uma hora :)

    • Jefferson - 6.532 Comentários

      Sobre a decisão de voltar caminhando para a estação Liverpool mesmo quando ficou claro que estávamos caminhando a menos de 5km/h, podíamos voltar para a estação de trem na Liverpool Street de metrô, o que só levaria 23 minutos, mas eu era contra a idéia, pois havia uma conexão no caminho. O tempo para ir para qualquer lugar a pé é uma razoável certeza, mas usando transporte público inflexível como um metrô que você não conhece pode ser um desastre. Eu só conseguia pensar na possibilidade de errarmos a conexão (você tem que ter certeza de que está entendendo as instruções do Google Maps), indo parar em outra estação. Só o tempo de corrigir isso poderia facilmente triplicar o tempo de viagem. Você não pode descer na próxima estação e voltar a pé. Tem que mudar de plataforma passando por cima da estação o que é demorado até para quem tem saúde. E depois esperar pelo trem de volta, acertar a estação de conexão desta vez e esperar o trem para o destino final.

      E ainda há a possiblidade nas duas “pernas” da viagem de você simplesmente pegar a composição para o destino errado. Por exemplo, se você é de Recife pense como na mesma plataforma passam trens para Jaboatão e para o Curado. O nativo sabe qual dos dois pegar para ir a um certo destino, mas o turista não faz idéia. Muita coisa pode dar errado para o meu gosto. Taxi era a única opção emergencial válida para mim.

      • Jefferson - 6.532 Comentários

        Este é basicamente o mapa de toda a rede ferroviária de Recife:

        E este é o mapa da rede ferroviária de Londres:

        Eu acho que um caipira como eu não deve se atrever a tentar entender isso de uma hora para outra.

  • Jefferson - 6.532 Comentários

    Outro erro do meu planejamento: mamãe esqueceu de trazer o carregador do celular dela.

    Eu tinha isso no meu checklist das viagens de 2018 e 2022, mas devo ter apagado por engano do meu checklist de 2024. O celular dela é um Motorola Edge com carregamento rápido e tinhamos conseguido contornar a falta dele até agora, mas fez falta na viagem para Londres.

    Outro problema: Lembrar de avisar mamãe para deixar o celular no modo avião e apagar a tela quando não estiver usando. Meia hora depois de deixarmos a estação Liverpool o celular dela já tinha perdido 20% de bateria. Quando vi, o brilho da tela estava no máximo e ela estava carregando o celular com a tela acesa para agilizar as fotos. Depois que eu expliquei para ela tomar cuidado com isso a bateria do celular aguentou todo o passeio. Ainda bem, porque o power bank que eu tinha levado precisei entregar a minha irmã, que tinha o celular mais velho e com pior bateria.

    Eu consegui administrar a carga do meu Motorola G54 bem e no trem de retorno, onde podíamos recarregar os celulares, cheguei com 20%. Mas para isso tive que deixar a tela com um brilho que mal dava para enxergar o que eu estava enquadrando, sob o sol londrino. Se eu tivesse ajustado para o brilho automático provavelmente teria ficado sem telefone no meio do caminho.

    Uma coisa muito útil que não precisamos usar e provavelmente teria desperdiçado mais bateria é o recurso de compartilhar “live location” do whatsapp. Eu só precisei usar isso uma vez, quando me separei do resto da família aqui em Dublin, mas é algo que acho recomendável você sempre lembrar de fazer ao sair em grupo, principalmente com uma senhora de 78 anos que não fala a língua local: Cada um compartilhar sua posição em tempo real no grupo Whatsapp da família.

    • Jefferson - 6.532 Comentários

      O recomendável mesmo, para não ter que ficar “pirangando” uso de bateria, é ter um bom power bank para cada membro da família. Eu comprei um muito bom aqui por 10 euros em 2018 (na época, R$55), que usei de novo em 2022, mas não pude trazer agora e não consigo encontrar outro à venda. Não por esse preço. Infelizmente eletrônicos aqui na Europa tem um preço compatível com o salário mínimo do europeu. O da Irlanda é 10 vezes o nosso.

  • Jefferson - 6.532 Comentários

    Outro erro do meu planejamento para a viagem para Londres: Tinhamos que acordar às 5 da manhã, mas não me esforcei para me forçar a dormir mais cedo com dias de antecedência. No dia da viagem às 00h30 eu ainda estava tentando adormecer. Acordei às 4 e não consegui dormir novamente. Eu não consegui chegar a Londres com a disposição ideal para um passeio, embora a emoção do sucesso tenha me feito esquecer os efeitos da noite mal dormida assim que chegamos ao centro da cidade.

  • Marcelo Coutinho - 30 Comentários

    Já ouviu ou viu o app maps.me?? Mapas offline

    https://play.google.com/store/search?q=maps.me&c=apps

  • Jefferson - 6.532 Comentários

    Outra falha do meu planejamento: Em teoria você pode suspender a cobrança das contas de telefone enquanto está viajando e eu esqueci de fazer isso enquanto ainda no Brasil. E aqui eu não consegui me autenticar no app. R$150 das duas contas TIM desperdiçados.

  • Jorge Mendonça - 55 Comentários

    Quanto aos mapas eu baixo o mapa off line no prórpio google maps. Powerbank eu ando com 2 na mochila que tenho há tempos, consigo 1 carga completa no celular em cada 1.

    Acho muito divertido seus textos sobre experiencias de viagens. Fui em Londres por duas vezes vindo de Paris, consegui perder o trem Eurostar nas duas. A primeira por uma falha gritante e amadora, trem partindo as 17h e eu tinha confundido com 19h (7 da noite). Foi a tarifa mais barata e não teve jeito se não comprar outra passagem. Na segunda vez passamos mais de 1hr presos no transito mas eu tinha comprado tarifa flexivel, devido a falha na viagem anterior, daí foi só esperar o seguinte.

    • Jefferson - 6.532 Comentários

      Quanto aos mapas eu baixo o mapa off line no prórpio google maps.

      Eu fiz isso em 2018, mas quebrei a cara ao descobrir que o Google Maps não traçava rotas para percursos a pé se offline. Não sei se esse absurdo mudou de lá para cá. Um mapa que não traça rotas é muito melhor do que nada, entretanto.

      Acho muito divertido seus textos sobre experiencias de viagens.

      Obrigado!

      Fui em Londres por duas vezes vindo de Paris, consegui perder o trem Eurostar nas duas. A primeira por uma falha gritante e amadora, trem partindo as 17h e eu tinha confundido com 19h (7 da noite).

      Esse planejamentos são muito estressantes. Eu não me considero acima de cometer um erro desses.

      Foi a tarifa mais barata e não teve jeito se não comprar outra passagem. Na segunda vez passamos mais de 1hr presos no transito mas eu tinha comprado tarifa flexivel, devido a falha na viagem anterior, daí foi só esperar o seguinte.

      Ainda bem que não tinha um vôo logo depois.

      O esquema do Stansted Express do aeroporto de Stansted para a Liverpool Street é o mesmo. Você tem um bilhete de ida e volta que pode usar em qualquer combinação de horários que queira.

      • Jefferson - 6.532 Comentários

        Caramba… eu olhei agora e uma passagem do Eurostar está custando até 272 euros por pessoa se comprar em cima da hora O_o

        Ainda não é como perder um vôo, mas é uma baita multa por desatenção.

        • Jorge Mendonça - 55 Comentários

          272 euros realmente está bem caro. A minha primeira viagem já tem 14 anos, foi em 2010. A passagem mais barata custava 50 euros e primeira classe na hora custou 170 euros, com o euro a pouco mais de 2 reais. Parece surreal esse valor hoje. A segunda viagem foi em 2015, custando 124 euros a passagem primeira classe e o euro na faixa de R$ 3,40.

  • Maxwell - 5 Comentários

    Jefferson, eu vi no site que pessoas que viajarem para o Reino Unido partindo do Brasil podem requerer a ETA a partir de novembro 2024 para usar a partir de oito de janeiro de 2025. Tô indo pra lá na próxima semana e levei um susto ao ler aqui que seria necessário desde janeiro de 2024. Veja:
    https://www.gov.uk/guidance/check-when-you-can-get-an-electronic-travel-authorisation-eta

    • Jefferson - 6.532 Comentários

      Eu já estava ciente que a ETA era necessária desde o início de 2024. O que me surpreendeu nesse link foi saber que o Brasil está numa lista dos que vão ter que requerer somente a partir de novembro. Achei que só havia um grupo e todo mundo estava incluído nele.

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