Eu quero ser um canalha a menos

Quando eu era adolescente, o finado Jota Ferreira apresentava um programa policial na TV aqui em Recife que sempre encerrava com uma frase parecida com esta:

“Se você agir com dignidade, poderá não consertar o mundo, mas tenha certeza de uma coisa: aqui na terra haverá um canalha a menos”.

Que pode ser considerada uma forma mais elaborada da mais conhecida:

“Muito ajuda quem pouco atrapalha”.

Eu levo a minha vida pensando em não afetar negativamente as pessoas à minha volta. Se eu não puder trazer uma solução para os problemas que encontro eu pelo menos me concentro em não ser parte do problema. Infelizmente é inacreditável o número de pessoas que atravessam nossas vidas fazendo questão de serem (ser?) parte do problema (quando não são o problema inteiro). E algumas se orgulham disso.

E é uma das razões para eu não gostar de dirigir. O excesso de oportunidade de ter contato com o que há de pior nas pessoas me causa uma sobrecarga emocional.

Uma frase comum para justificar essa atitude é (e ouvir de alguém que frequenta a igreja aos domingos é de arregalar os olhos):

“Ninguém faz por mim, porque eu vou fazer pelos outros?!”

Que é inacreditavelmente egocêntrica e fundamentalmente ilógica. Se você está “certo” pensando dessa maneira, todos os outros “que não fazem por você” estão certos também e você não está fazendo nenhum esforço para ser melhor que eles. Muito pelo contrário, você está se esforçando para se nivelar “por baixo”.  E olha que as pessoas que dizem isso via de regra se consideram superiores enquanto claramente se esforçam para serem (ser?) iguais a quem criticam.

A primeira vez que eu me recordo de ter contato com esse tipo de atitude foi no exército, quando ouvi um soldado dizer alto para quem quisesse ouvir no alojamento: “Roubaram a minha toalha. Eu vou roubar a de alguém!”

Tentar resolver o problema perpetuando o problema. Dar o troco a um ladrão sendo um ladrão.

É importante notar que esse comportamento não conhece barreiras econômicas nem sociais. O dono do Chevette (ou o ciclista) pode ser tão FDP quanto o dono da Hilux. O (que se diz) católico pode ser tão FDP quanto o (que se diz) evangélico.

E é o que eu mais percebo quando ouço gente falar sobre política hoje em dia. É simplesmente insano. Um comportamento de torcida organizada de futebol. O povo perdeu completamente a noção de certo e errado e o que importa é que o seu time ganhe!

Dignidade? Que dignidade?

Mahatma Gandhi uma vez disse:

“Seja a mudança que você quer ver no mundo.”

E uma quantidade desconfortável de pessoas com quem já cruzei é simplesmente impermeável à mensagem embutida nessa frase. Elas podem conhecer a frase, citá-la, e não entenderem o que significa, como aquele que uma vez eu me recusei a ajudar porque ele estava sendo folgado e ele teve a audácia de citar Gandhi contra mim.

Mas eu sigo concordando com Jota Ferreira. Quebre o circulo vicioso. Faça pelos outros sem esperar que tenham feito por você.

Ou, pelo menos, não atrapalhe.

 

 

1 comentário
  • Marcelo Neuri Haag - 105 Comentários

    Tranquilo! Como te disse em PVT nosso particular é o mais importante nesses casos. Fuqies bem e poste no teu ritmo! :)

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