Uma noite como pedestre em Recife: quase fui atropelado.

E na verdade foram só uns cinco minutinhos!

Estava voltando de carro do apartamento de um cliente e decidi depositar os cinco cheques que eu tinha acumulados na carteira. Como o estacionamento na frente do Bradesco da Madalena é proibido, mesmo sendo quase 22h eu deixei o carro onde sempre deixo, 180m antes, e fiz o trajeto a pé (em azul na foto abaixo).

A: Iniciei a primeira travessia. Lembro que os carros na Real da Torre estavam parados;

B: Perto do fim da primeira travessia, já chegando à ponta da calçada, registro que os mesmos carros estavam em movimento (o sinal abriu). Este foi meu último registro consciente até eu “acordar” no ponto seguinte;

C: Repentinamente eu ouço o ruído dos carros aumentar e uma moto me faz parar assustado quando corta a minha travessia buzinando. Outro carro passa na minha frente, mais lento que a moto; e mais outro além dele também está em movimento. Percebo que devo estar no lugar errado. Olho instintivamente para o sinal de trânsito à minha frente na outra via e está fechado, o que significa que estou no meio de uma via onde o sinal está aberto para os veículos. Parecia que eu estava no meio de um sonho ruim.

Eu só consigo dizer com razoável precisão em que ponto da travessia eu estava porque eu lembro de ver um ônibus atrás de mim, à direita (cujo motorista certamente me viu e permaneceu parado) e como 1/5 dessa via é reservado para veículos em sentido contrário, eu tinha que estar a 2/5 da travessia.

Por um momento eu realmente não soube o que fazer, nem quantos carros cruzaram a minha frente. Mas em um momento os motoristas me notam e mantém distância, me permitindo terminar a travessia. Confuso e irritado, faço um gesto indicando a faixa de pedestres onde estou e grito: “olha a faixa, p**ra!”, numa tentativa de justificar para mim mesmo e para os outros (mas soou como se eu estivesse reclamando justamente com quem tinha parado para que eu passasse) o que danado eu fazia ali sem estar vestindo uma armadura de aço.

O que mais me preocupa nesse evento é eu não conseguir lembrar de nada entre os pontos B e C. Eu normalmente olho cada sinal de trânsito antes de botar o pé na faixa. Mas desta vez eu simplesmente entrei “no automático”. Para meu azar, às 21:50h o intervalo de cada sinal é muito curto.  Durante o dia eu teria feito o trajeto completo até o banco e o sinal ainda estaria fechado. Mesmo assim, na volta eu observei os sinais abrindo e fechando e não consegui entender como só deu tempo para chegar até o ponto C.

Eu admito que estava literalmente “desligado” quando iniciei a travessia da Caxangá.

Mas o fato é que eu estava em cima da faixa. Quase no canto mais distante dela, praticamente no meio da via, e mesmo assim não fui visto pelos motoristas. Em posso até apostar que eles estavam parados além (por cima) da faixa horizontal, porque se estivessem parados antes, haveria ângulo suficiente para me verem. Mas outra coisa que concorre para que esse tipo de coisa ocorra é a mania que os motoristas (e motociclistas) tem de engatar a primeira e sair imediatamente ao ver o sinal verde. E eu confesso que também não dou a atenção que deveria a isso quando estou dirigindo.

Se eu tivesse sido atropelado, a culpa “legal” seria inquestionavelmente de quem batesse em mim. Mas eu também não seria moralmente “inocente”.

11 comentários
  • Marcelo - 6 Comentários

    Isso já aconteceu comigo e o pior, é como você se sente depois, sabendo que a m**da foi você mesmo que fez! 

    • Jefferson - 6.464 Comentários

      Pois em toda a minha vida é a terceira vez.

       

      Na primeira, eu tinha entre 16 e 18 anos. Atravessei uma rua de 4 faixas olhando para a direita esquecendo completamente que a primeira faixa era no sentido contrário.Fui atropelado por uma Kombi. E a culpa foi inteiramente minha.

      A segunda vez foi parecida com esta, há um ano. Eu atravessei uma rua secundária completamente desligado e só percebi que deveria ter olhado se era seguro atravessar quando um carro passou devagar por trás de mim. Nada aconteceu, mas poderia.

  • Luciano - 464 Comentários

    Pois é… a uns anos atras, quando da morte de um cão aqui de casa (a Snoopy, falei disso na época no meu blog), passado uma semana, e eu estava num baixo astral danado por saudade da bichinha. Tem um segmento de cerca de 2 horas desse dia, que eu simplesmente *não lembro de nada do que fiz*.
     
    Só sei de o seguinte, eu lembro de estar na oficina cabisbaixo, e duas horas depois, de estar na casa de um amigo meu, em uma cidade vizinha, uma distancia de 28KM daqui. Eu simplesmente não me lembro de ter pego a moto, qual estrada (tem duas opções pra ir pra essa cidade) usei, e de qualquer coisa que tenha se passado na viagem.
     
    Quando eu estava lá na casa dele, já fazia uns 15 minutos eu comentei com ele…
     
    – Rapaz, se eu te falar que vim pra cá no “automático” você vai acreditar? Não lembro o caminho que fiz e nem de nada que vi pelo caminho.
     
    Pois é… coisas da mente.

    • Jefferson - 6.464 Comentários

      Isso já aconteceu mais de uma vez comigo, porém em lapsos bem menores, e sempre voltando para casa à noite pela rodovia. Eu de repente tomo consciência de que não lembro de ter percorrido os últimos dois quilômetros. Não há como dizer se estava consciente e simplesmente o trecho sumiu da minha mente ou se, que Deus me proteja, eu dirigi sem a ajuda do consciente por dois quilômetros. O fato é que nunca fui acordado por nenhum “susto” como hoje. Eu sempre tomei consciência do lapso em segurança.

      • Luciano - 464 Comentários

        Então, mas digamos que eu fiquei preocupado quando duas horas depois eu tomei consciência que não estava na minha oficina e sim a 28KM de casa e não lembrar absolutamente de “wtf, que que eu to fazendo aqui? como cheguei aqui?”
         
        A viagem deve ter sido feita em segurança, pois eheh, eu estou aqui e não aconteceu nada naquele dia. Mas que é realmente esquisito, isso é! :S

    • Jefferson - 6.464 Comentários

      Nota: não estava com sono. E não bebo.

  • Saulo Benigno - 279 Comentários

    Uxe, como assim? Você apagou do nada? Isso não é normal.
     
    Mas, o que me preocupou mesmo foi nem isso, foi o horário para você ir a um banco depositar cheques…
    Pense, você saindo a essa hora, 22h e andar isso tudo A PÉ e de noite.. LOUCO! Queres morrer mesmo. Louco.  Tanto Bradesco mais seguro (mesmo essa hora) e tanta hora para fazer isso. Louco.

    • Jefferson - 6.464 Comentários

      Eu faço isso corriqueiramente, Saulo. Para mim Recife não é tão perigosa nos lugares que frequento. A única vez em que fui assaltado, era adolescente e estava esperando o ônibus para voltar para casa à noite. Isso foi há mais de 23 anos. De todas as vezes em que estive em bancos à noite, apenas uma vez vi uma movimentação suspeita.

      E a julgar pelas reportagens que vejo na TV, bancos são bem mais perigosos à plena luz do dia aqui.

  • VR5 - 397 Comentários

    Vou dizer uma coisa: esse negócio de estar no “piloto automático” acontece MUITO comigo. Exemplo: a gente tem determinadas tarefas para fazer (gusrdar coisas, limpar, arrumar, botar em ordem, etc.). SE me perguntarem sobre alguma tarefa específica, sou capaz de não me lembrar de ESTAR fazendo a tarefa, mas se vou conferir eu fiz TODAS as tarefas que me propus… é como se as vezes a minha “memória recente” ou a memória das coisas “rotineiras” falhasse… não sei se é porque eu sempre estou “viajando”, epnsando em coisas láááá longe ou é um problema realmente… isso pode ser normal???

  • Sony Santos - 58 Comentários

    Tem certeza de que não foi abduzido? rs, brincadeira. Já tive lapsos pequenos, e já vi pessoas próximas tendo lapsos. Acho que, até certo ponto (pouco tempo, baixa frequência etc.), é bem normal. O problema é saber o que aconteceu, se nesse pouco tempo acontecer algo relevante.

    Pensei na possibilidade de fazer uso pessoal da câmera veicular, rs.

    E uma vez já fui “atropelado em baixa velocidade” – o carro parou em cima e relou em mim -, por minha culpa (atravessei fora da faixa, mas achei que não vinha carro de onde eu não estava enxergando). Isso foi em Campinas, há muito tempo.

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