A comunidade Linux em “guerra civil”. Nenhuma surpresa nisso.

Eu quero lembrar que sou grande admirador do Linus Torvalds. Meu problema é com a grande densidade de “haters” que gravita em torno da criação dele. Não é que não exista arrogância e ódio fora da comunidade. É que a densidade nela é enorme. São apenas 2% dos usuários de computadores, mas você não consegue caminhar em meio a um grupo deles sem esbarrar em alguém que pregue o fim das alternativas em nome de uma tal “liberdade” cujo significado ele redefiniu.

Eu costumo dizer para quem quiser ouvir e desta vez vou deixar por escrito que se a “comunidade” Linux:

  • Conseguir a destruição da Microsoft vai atrás da destruição da Apple;
  • Conseguir a destruição da Apple vai atrás do Unix (afinal, não é livre);
  • Conseguir a destruição do Unix vai brigar por filosofia de distribuição (Debian versus não Debian);
  • Quando só restar um tipo de distribuição, as distros (ou seus usuários) vão brigar entre si
  • E depois vem a briga pelos detalhes.

Mas não necessariamente nessa ordem. Para quem olha de fora, convivência pacífica simplesmente não é uma qualidade dessa gente.

A comunidade está em uma guerra interna há meses. Tudo por causa de um tal “systemd” que está sendo adotado por várias distros importantes como “system init” padrão. Usuários que não querem abrir mão da inicialização via scripts combatem a adoção do systemd porque ele se parece muito mais com o svchost do Windows, onde serviços podem ser parados e iniciados até fora de ordem e simultaneamente.  Ao que parece, a troca do tradicional método por scripts pelo método com systemd favorece mais usuários de desktop e os que criam serviços “cloud” (odeio esse termo), mas os system admins detestaram a novidade. E como não conseguiram convencer os mantenedores das distros, parece que intimidar o principal desenvolvedor se tornou opção. Não faltou nem ameaça de morte.

Usando como argumento a própria propaganda da comunidade eu sou obrigado a perguntar (retoricamente, é claro) por quê isso?

Afinal não é mantra do open source que se você não gosta de algo do jeito que está, você pode mudar o código fonte e fazer seu próprio fork de uma distro inteira se quiser? Por quê de repente é tão dificil? Por quê brigas e ameaças?

Ouso dizer que é porque mentiras, arrogância, ódio, brigas e ameças são uma constante na “comunidade”. E não precisa levar em conta apenas minha opinião porque o autor do systemd, que está lá dentro, afirmou que “a comunidade é cheia de c*zões” e “um lugar doente para se estar”.

E essa não é a primeira briga interna, claro. Emacs versus vi, KDE versus Gnome… O que não falta é briga na história do Linux. Parecem torcidas de futebol e não as pessoas de grande inteligência e altamente iluminadas que dizem ser. Mas pelo menos enquanto eles estão ocupados se esfaqueando param de encher o saco dos outros 98% dos usuários de computadores.

E para mim nessa discussão não importa se o systemd é bom ou não. Isso deveria ser irrelevante. Quem gosta, usa. Quem não gosta, não usa. Você é ou não é “livre” ao escolher o Linux como SO?

Aviso: Eu aviso, principalmente aos pára-quedistas, que conforme minha política anti-troll já em vigor há muito tempo eu me reservo o direito de ignorar (sem publicação) comentários por qualquer motivo.

3 comentários
  • Marcio - 14 Comentários

    Eu tenho acompanhado essa discussão já faz algum tempo.

    O problema principal aqui é que o systemd é muito diferente de outros sistemas de init disponíveis no linux.

    O kernel do linux, depois de inicializado, faz alguns testes, monta o sistema de arquivos e então passa o controle do sistema para o processo init que se encarrega de inicializar todos os outros serviços do sistema.

    O mais tradicional deles é o SysVinit que existe desde o inicio dos tempos, existem outros, como por exemplo o openrc e o upstart, esse ultimo desenvolvido pela canonical e usado no ubuntu.

    O systemd é um init que começou a ser desenvolvido pela redhat, uma das mais tradicionais distribuições de linux e muito usada principalmente em ambientes corporativos, que como o Jefferson deve saber muito bem, é bastante avessa a mudanças.
    A principal reclamação do pessoal é contra o systemd é que ele não segue a filosofia
    Unix do “Programas que fazem apenas uma coisa e fazem bem”, o systemd incorporou muitas outras funções além de inicializar, parar e reiniciar processos.

    Eles absorveram o dbus, o principal mecanismo de IPC usado no linux, possuem um gerenciador de login, gerenciador de logs do sistema, controle de interfaces de rede, agendador de tarefas entre outras coisas.

    Tradicionalmente para cada um desses serviços você tinha mais de um programa para escolher para usar.

    Devido a essa integração de diversos serviços básicos, o systemd começou a oferecer algumas funcionalidades que não estavam presentes anteriormente e diversos projetos começaram a utilizar essas funcionalidades, criando uma dependência com o systemd. Em geral estão implementando isso como opcionais que ficam desativados se o systemd não está presente, mas no futuro podem aparecer aplicativos que tenham uma dependência direta com algum módulo do systemd.

    Para a grande maioria dos usuários essa mudança é transparente, se as distribuições fizerem a migração corretamente, os usuários vão ver que o computador continua iniciando normalmente e esta tudo certo.

    A maioria do pessoal que está tentando boicotar o systemd é principalmente o pessoal mais ligado a administração em ambientes corporativos, muitos deles inclusive clientes da redhat, muitos desses caras possuem sistemas personalizados, ferramentas próprias, etc e vão ter muito trabalho para migrar para o systemd.

    Há outras questões levantadas como o fato do sistema de logs do systemd armazenar os dados em forma binária e não em modo texto como é tradicional, o próprio Linus acha isso uma ideia ruim.
    Todas essas novas funcionalidades do systemd também o deixam muito mais complexo e há o temor de que um bug em um módulo possa derrubar o sistema inteiro essa preocupação é agravada pelo fato que a qualidade do código do systemd em varias partes ser considerada abaixo do que se espera de um programa com esse nível de importância.

    Eu não tenho uma opinião totalmente formada sobre o systemd e nem estou aqui defendendo ninguém, esses caras que ficam fazendo ameaças não colaboram em nada para a solução dos problemas e os desenvolvedores do systemd estão tentando resolver alguns problemas bem complexos, realmente espero que algo de bom surja disso tudo.

    • Jefferson - 6.564 Comentários

      Obrigado pela contribuição!

      e muito usada principalmente em ambientes corporativos, que como o Jefferson deve saber muito bem, é bastante avessa a mudanças.

      E com razão. Durante o debate após a descoberta do shellshock de um lado vinham palermas com aparentemente zero experiência em administração de servidores dizendo “já existe patch. É só fazer um apt-get update…” e do outro sysadmins respondendo algo como “você é louco?”.

      Tradicionalmente para cada um desses serviços você tinha mais de um programa para escolher para usar.

      O que cria um problema no Linux usado por pessoas que não são sysadmins (desktops, sistemas embarcados…). Se o programa precisa inicializar junto com o sistema é preciso testar para diversas configurações de inicialização possíveis e ainda assim a auto instalação pode falhar e o usuário vai precisar fazer manualmente. Entre outras coisas o systemd oferece um modo padronizado de conseguir isso que é bem vindo para usuários de desktop.

      Não estou defendendo o systemd. Mas eu já perdi bastante tempo no Linux tendo que instalar “na munheca” um programa ou corrigir uma instalação que falhou.

      Há outras questões levantadas como o fato do sistema de logs do systemd armazenar os dados em forma binária e não em modo texto como é tradicional, o próprio Linus acha isso uma ideia ruim.

      Por um lado eu também acho ruim. Eu sou fã dos arquivos INI para configurar aplicações e não usar o Registro. Mas por outro lado o Linux e seus múltiplos arquivos de configuração dão um nó danado na cabeça do usuário que simplesmente quer usar o sistema. De uma distro para outra e de uma versão para outra muda o lugar onde fica a configuração ou arquivo de configuração inteiro que você procura. Da última vez que tive problemas com isso se não estou enganado foi para definir os servidores DNS manualmente. Eu fazia a configuração seguindo à risca o tutorial mas esta era ignorada, depois descobria que era ignorada porque nessa versão podia estar em outro arquivo e depois desisti porque não funcionava.

      E tem também o problema da organização hierárquica da informação. Para criar uma hierarquia em arquivos ASCII o jeito tradicional é usar XML que, francamente, acaba se tornando quase tão incompreensivel quanto binário rapidamente. E para ler esse XML em um programa os métodos costumam ser tão confusos que, pelo menos no Windows, eu prefiro criar um arquivo de configuração hierárquico binário a um em XML. E se o formato do binário do systemd for bem documentado (e tem código-fonte para você olhar se não houver documentação) não vejo gande problema nisso.

  • JavaNunes - 1 Comentário

    Perdão, mas as coisas não são assim: quem não quer usa, quem quiser usa. Por trás de sistemas operacionais livres como Linux, OpenBSD e FreeBSD existem padrões, cultura e costumes. Falar que cada um faz o que quiser por que o sistema é livre é demagogia pois o sistema é baixado de uma forma padrão que incentivará todos o usarem daquela forma.
    Veja um exemplo: o Linux é livre, mas nem por isso algum doido incentivou aos usuários usarem o usuário root (UID 0) como padrão para facilitar a vida deles. O Linux é livre sim mas existe o padrão LSB que tenta padronizar as distribuições para que elas não fiquem ruins para a compatibilidade como eram no passado. Existe o posix também.
    Nem sempre quando as pessoas reclamam de algo novo é por que elas são ranzinzas , ninguém de TI por exemplo reclama de lagar o seu notebook velho com windows 8 para usar um MacBook Retina. Isso é preconceito.
    As vezes algumas novidades não são boas mesmo.
    O systemd não agrada muito pois ele se mete a querer fazer tudo na desculpa de ser paralelo e oferecer um boot veloz , nisso eu vejo que ele perde para o upstart.
    Sem se falar que um computador com systemd não é garantido iniciar , as vezes ele trava em um processo que não consegue subir e não passa dali.
    Terá um tempo, se continuar assim, que o systemd vai até abrir o Libre Office para a gente.
    Belo era o tempo dos inits tradicionais onde eu tava um C^ para finalizar um processo emperrado.

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